E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Lucas 2:10-11.

O Filho de Deus nasceu neste mundo, mas não encontrou lugar para Si. O mundo está à vontade, como em sua casa. Neste mundo, não há lugar para Deus nem para o que é de Deus. Entretanto, é muito mais perfeito o amor que o trouxe aqui à terra. Jesus começa a Sua carreira numa manjedoura e termina-a na cruz.  Durante a Sua vida aqui na terra, não tinha onde repousar a cabeça. No mundo, o Filho de Deus aparece como simples criança, participando de toda fraqueza e de todas as circunstâncias da vida humana, exceto do pecado.

O nascimento do Filho do homem, isto é, Deus manifestado em carne, é um mistério para a mente humana. Mas o fato é que a Sua encarnação tinha uma importância que, para as inteligências celestes, para a multidão dos exércitos celestes, cujos louvores ressoavam na ocasião da comunicação feita pelo anjos aos pastores, se resumia assim: E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo: Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens. Lucas 2:13-14. Estas simples palavras abraçam tal multiplicidade de pensamentos que é difícil abranger convenientemente num simples estudo.

O cumprimento dos eternos desígnios de Deus, a perfeição dos Seus caminhos, a manifestação de Si próprio neste mundo corrompido pelo pecado – tudo isso reunido dava lugar a esses louvores. Numa palavra, Deus era manifestado de tal maneira pelo nascimento de Jesus, que o exército dos céus, conhecendo o Seu poder desde a eternidade, podia entoar: Glória a Deus nas alturas. E todas as vozes se juntavam à celebração desses louvores. Que extraordinário amor!  Deus é amor: Deus feito homem! Que supremacia do bem sobre o mal! Que sabedoria, que delicadeza ao Se dirigir e aproximar-Se do coração do homem!

Aqui está o poder de Deus, presente em graça na Pessoa do Filho de Deus, tomando parte na natureza e interessando-Se pela sorte de um ser que se afastou Dele, e fazendo desse mesmo ser a esfera do cumprimento de todos os Seus desígnios e da manifestação da Sua graça e da Sua natureza a todas as Suas criaturas. Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne. Romanos 8:3. Aquilo que Deus fez estabelece o que a lei não podia fazer. A lei era incapaz de condenar “o pecado na carne”, porque estava “ enferma pela carne” . A lei podia condenar o pecador, mas não podia anular o domínio do pecado.

Esta frase, Deus enviando seu Filho, indica a pré-existência do Filho. Ele era o Filho amado de Deus antes de ser enviado ao mundo. Aqui como em toda a Escritura, Deus o Pai é descrito como tendo tomado a iniciativa na salvação da humanidade. O Propósito de Deus ao enviar Seu Filho em semelhança da carne do pecado era julgar e destruir o pecado. Foi no corpo de Cristo que Deus pronunciou e executou Sua sentença sobre o pecado. Nada há diante de Deus senão a perfeição da obra consumada na cruz. O pecador foi julgado e os seus pecados foram perdoados.

Vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor, diz o mensageiro celeste aos pastores. Desejava, com efeito, anunciar a boa nova para eles e para o mundo. Era a profecia que anunciava a vinda de Cristo e o efeito da Sua presença, revelada em uma só Pessoa: Salvador, Cristo e Senhor. Na qualidade de Salvador, fala-nos da Sua vinda a este mundo para libertar o homem do seu pecado. Deus, em Pessoa, revelado no Filho: Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. João 8:36. Que fato maravilhoso! Deus não nos dá salvação, Ele é a nossa salvação. Somos salvos pela Pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Conhecemos o verdadeiro Deus e Jesus Cristo a quem Ele enviou. Conhecemos o nosso próprio Deus e Pai e a Cristo como nosso amoroso Salvador e Senhor.

Tudo depende necessariamente desse grande feito: que Deus esteve neste mundo, e – graças Lhe sejam dadas! – esse Deus é um Deus Salvador! Que sublime revelação que tenha sido o próprio Deus, a própria Bondade, a manifestar-Se neste mundo.  A Sua presença como Salvador nos leva a ver a Sua obra. O nome Cristo, relaciona-se aos Seus sofrimentos, Sua rejeição, crucificação e ressurreição. Saiba, pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. Atos 2:36.  Deus o fez Senhor, de sorte que todo ser nos céus e na terra, e mesmo todo ser infernal, deve dobrar os joelhos, e toda língua deve confessar que Jesus Cristo é Senhor.

O pecado entrou no homem, mas o homem não tinha forças para sair do pecado. E, para que o homem fosse salvo, a lei exigia a morte do mesmo: Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá. Ezequiel 18:4. Então, todos os homens precisam morrer, pois todos pecaram. Conforme estás escrito: Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. Romanos 3:23.  Adão, o pai de todos os povos, era a personificação de toda a humanidade. Adão era tanto o indivíduo como a raça. Sua posteridade é tida como agindo com ele pelo fato de ser a sua própria posteridade. Então, em Adão todos pecaram, todos perderam o brilho da glória de Deus, que é Cristo.

Foi o puritano Thomas Goodwin que disse: à vista de Deus existem dois homens – Adão e Jesus Cristo – e estes dois homens têm todos os outros homens amarrados a seus cintos. A transgressão de Adão envolveu toda a raça no pecado, na condenação e na morte, enquanto a obediência de Cristo conquistou retidão e vida para Seu povo. Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Romanos 5:17. 

No primeiro homem, temos pecado, desobediência e morte. No segundo homem, temos justiça, obediência e vida. A única solução satisfatória para o problema deve ser encontrada na relação representativa que Adão tinha com a raça humana. Ele trouxe morte, mas a relação representativa em Cristo trouxe vida.    O contraste final mostra que as terríveis conseqüências da queda são suplantadas pela justiça de Cristo, que é livremente posta a nosso crédito. Se um só pecado de Adão pôs toda a raça humana sob o reino da morte, quanto mais aqueles que recebem a abundância da graça e a dádiva da justiça reinarão em vida. Todos os que são condenados são condenados por uma só ofensa de Adão, e todos os que são justificados são justificados por causa de um só ato de justiça de Cristo.

Falamos da preciosa obra que nosso Senhor Jesus Cristo consumou por nós, assegurando-nos a perfeita remissão dos pecados e total libertação do velho homem. O nascido de novo é aquele que não está apenas perdoado, mas liberto. Cristo morreu por ele, e este morreu com Cristo. Portanto, encontra-se livre e longe do jugo da escravidão. Ele é agora uma nova criatura, passou da morte para a vida. A morte e o juízo ficaram para trás e nada mais, além da glória, se encontra diante dele. Ele foi recebido e aceito por Deus pelo perfeito e único sacrifício do nosso Senhor Jesus.

Aquele que morreu com Cristo, morreu para o pecado. Morrer com Cristo é, portanto, morrer para o pecado. Morrer para o pecado é, portanto estar justificado. Ressuscitar em Cristo é, portanto, ressuscitar para uma nova vida. Ressuscitar para uma nova vida é, portanto, não viver para si, mas para Aquele que morreu e ressuscitou. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. 2 Coríntios 5:15.  Na verdade, o governo de Cristo sobre a vida daqueles que foram salvos foi a exata razão pela qual Ele morreu e ressuscitou.
           
Na qualidade de Salvador, Deus em Pessoa, foi manifestado no Filho para trazer o homem à Sua presença. Como Cristo, temos a nossa união com Ele na Sua rejeição, morte e ressurreição. Agora O vemos como Senhor. Porque foi para isto que morreu Cristo, e ressurgiu, e tornou a viver, para ser Senhor, tanto dos mortos, como dos vivos. Romanos 14:9. Os nascidos de novo pertencem a Cristo porque foram comprados por um alto preço. O nosso relacionamento com a Pessoa de Jesus se fundamenta em Sua morte e ressurreição, e isto significa o seu governo sobre tudo e todos, tanto dos mortos como dos vivos.
           
Cristo morreu e ressuscitou para obter o senhorio sobre o Seu povo. Como mediador triunfante, Ele foi investido de soberania absoluta tanto sobre mortos quanto vivos. Poole diz: Como Deus, Ele tem domínio universal sobre tudo; mas como Mediador, tem um domínio mais especial sobre todos que o Pai lhe deu: este domínio Ele adquiriu com Sua morte, e passou a exercê-lo plenamente quando ressurgiu. A vida do nascido de novo só está propriamente ordenada quando visa a vontade de Deus: ser conformado à vontade de Deus, bem como fazer todas as coisas para Sua glória. 
    
A graça eleva-se sempre à altura de cada dificuldade. O segredo do descanso é saber que o Senhor está no controle de todas as coisas e que Ele governa cada detalhe da vida daqueles que lhe pertencem. Aquele que foi salvo deve saber de imediato que Jesus Cristo é o Senhor. Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós. 1Pedro 3:15.  O descanso dos filhos de Deus está estabelecido sobre um fundamento que nada pode abalar Naquele que fez tudo por eles. O verdadeiro incontestável fundamento do descanso é este: que as exigências da natureza de Deus quanto ao pecado foram totalmente satisfeitas.
       
Está consumado! Este foi um brado de vitória do nosso Senhor Jesus Cristo no momento de Sua crucificação. Isto equivale dizer: Está feito. Quanto mais O conhecermos, tanto mais sólido será o nosso descanso, e mais elevadas serão as nossas almas acima de quaisquer circunstâncias. O Senhor é a nossa rocha, e nós precisamos apenas alijar todo o nosso peso sobre Ele para sabermos quão poderoso é para nos suster. Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse. Isaías 28:16.

Pastor Humberto Xavier Rodrigues (http://www.palavradacruz.com.br/)